Pouca gente contesta que segurança deve vir em primeiro lugar, mas essa conscientização demorou um pouco a se consolidar, acreditem cerca de 2.650 anos.
Sim é verdade, o primeiro alerta sobre segurança que se tem notícia, é encontrado no Deuteronômio 22:8 (quinto livro da Bíblia composto em Jerusalém no século VII a.C ) e que diz:
“Quando você construir uma casa nova, faça um parapeito em torno do terraço, para que não traga sobre a sua casa a culpa pelo derramamento de sangue inocente, caso alguém caia do terraço”.
A próxima referência a medidas de controle de risco que encontramos, ocorreu oito séculos depois, quando Caio Plínio, naturalista romano, mencionou a iniciativa dos escravos em utilizar panos para atenuar a inalação de poeira. Evidentemente, naquela época a produção vinha em primeiro lugar.
A coisa só começou a melhorar quando Bernardino Ramazzini , considerado o “Pai da Medicina do Trabalho” publicou em 1700 o livro “De Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos Trabalhadores) onde relaciona o trabalho e a doença para 50 profissões.
Com a revolução industrial que ocorreu em meados do século XVII (1750-1760), o mercado passou a incorporar o trabalho de mulheres e crianças, pois estes recebiam salários menores do que os homens adultos. Crianças começavam a trabalhar aos 6 anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias parados, e a produção ainda ocupava o primeiro lugar.
Em 1802 a Inglaterra aprovou a primeira lei de proteção aos trabalhadores, a Lei da Saúde e Moral dos Aprendizes, que estabelecia o limite de 12 horas por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as fábricas e tornava a ventilação obrigatória.
O Factory Act de 1833 aplicava-se a todas as empresas da Inglaterra e proibia mais de 69 horas semanais, exigia escolas para menores de 13 anos e idade mínima de 9 anos para os pequenos trabalhadores, além da obrigação de atestado médico para o trabalho. Apesar da produção continuar em primeiro lugar, já se faziam considerações sobre as condições de trabalho.
No início do Século XX, Frederick Taylor desenvolveu técnicas administrativas visando o aumento da capacidade produtiva do trabalhador, designando tarefas mínimas aos indivíduos, com separação entre a elaboração e a execução no processo de trabalho, fragmentação das funções e hierarquia rígida. A produção (que vinha em primeiro lugar) visava o consumo em massa, conceito adotado por Henry Ford na linha de produção de veículos da Ford (modelo T -1908).
Nessa época, o custo das doenças e acidentes do trabalho começa a ser sentido pelos empregadores (pois afetava a mão de obra produtiva) e pelas companhias de seguro, pressionando pela adoção de medidas de higiene e segurança no trabalho.
No Brasil, a legislação sobre segurança e saúde no trabalho iniciou com o Decreto 3.724/1919 que estabeleceu as obrigações resultantes dos acidentes de trabalho, incluindo indenizações e ações judiciais. Posteriormente, em 1943, entrou em vigor, a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.
E a segurança começou timidamente a avançar para o primeiro lugar.
Segurança em primeiro lugar é uma cultura que se originou do movimento ” Segurança em Primeiro Lugar”, que aconteceu no início do século XX com o objetivo de reduzir os riscos no local de trabalho.
O lema é utilizado nos Estados Unidos e Japão desde a primeira década do século XX quando vários órgãos internacionais e governamentais começaram a promover a segurança na indústria.
Na década de 1990 quando um novo presidente assumiu a Eletropaulo, e a exemplo do que faziam outros CEOs pelo mundo, trouxe para a empresa como seu primeiro grande objetivo, a implantação da cultura” Segurança em Primeiro Lugar”, uma ótimo ideia sob qualquer ponto de vista, pois conseguia unir o corpo da empresa em torno de um objetivo comum, e contra o qual, ninguém em sã consciência iria se posicionar.
Fazia o mencionado presidente o lançamento da campanha Segurança em Primeiro Lugar em uma grande reunião, quando um gerente perguntou:
– Mas o lema da empresa até hoje é “o cliente em primeiro lugar” então quem deve vir em primeiro lugar, o cliente ou a segurança?
A feliz resposta foi a de que os dois lemas não eram mutuamente excludentes, o atendimento ao cliente era o principal objetivo da empresa, e tudo deveria ser feito para atendê-lo da melhor forma possível, exceto comprometer a própria segurança ou a de terceiros, porque a segurança em nenhuma hipótese, poderia ser negligenciada.
Decio Wertzner março/2022